Ana Paula tinha 52 anos. Foi cabelereira, até que a doença de Huntington, um distúrbio neurológico hereditário raro, a mandou para a cama.

«Ela estava acamada há um ano. Mal falava e não conseguia andar. Curiosamente, no dia em que ela faleceu ainda conseguiu dar uns passinhos e pediu um cigarro à minha mãe que não tinha. Disse então que ia dormir e esperar que ela lhe trouxesse cigarros quando voltasse da missa», conta ao AgoraMadeira Daniel Freitas, o irmão de Ana Paula que um dia depois do trágico incêndio que matou a irmã, abriu as portas do que resta da casa ao AgoraMadeira.

No quarto da irmã, o anjo favorito de Ana Paula capta a atenção de Daniel. «É incrível como isto continua aqui desta forma. Tudo queimou à volta mas isto ficou quase intacto», olha, com espanto.

É com emoção no rosto e a voz trémula que Daniel admite que nada podia fazer.  «Quem alertou do incêndio foi um vizinho. Eu estava a descansar deste lado da casa e quando me levantei, fui lá ter e tentei ir buscá-la mas apercebi-me que não havia nada a fazer. Ninguém conseguia entrar ali. Estava cheio de chamas e fumo. Ainda consegui atravessar o primeiro corredor, depois tinha de atravessar e virar à esquerda. Mas não consegui.  Podia ter ficado lá também!», relata, de certa forma conformado com a situação, para logo reforçar: «O que interessa agora é pô-la a descansar em paz, porque ela também sofreu bastante. É preciso seguir em frente e ajudar a minha mãe», adianta.

Para Daniel Freitas, o cigarro terá mesmo sido a causa do incêndio. «A minha irmã estava acamada mas fumava. A minha mãe foi para a igreja e eu penso que ela deve ter pegado no isqueiro e tentado acender um cigarro. Depois deve ter pegado lume na cortina que estava atrás. A Policia Judiciária está a investigar mas penso que deve ter sido o cigarro. Não vejo outra explicação!», realça.

DANIEL PEDE AJUDA PARA A RECONSTRUÇÃO E ELOGIA BOMBEIROS VOLUNTÁRIOS MADEIRENSES

Com a casa sem seguro, Daniel Freitas não esconde a preocupação com o futuro. «Vêm aí as chuvas e isto vai ficar perigoso. Precisávamos de tapar aquilo! Se eu tivesse o material, fazíamos a obra porque tenho família e amigos que já se ofereceram para ajudar. Mas não tenho possibilidades financeiras para arranjar esse material«, lamenta, deixando um rasgado elogio aos Bombeiros Voluntários Madeirenses. «Os bombeiros foram uns heróis para mim. E se eu ainda tenho esta parte da casa e um teto para viver, deve-se à eficácia deles. Eles foram incansáveis!», conclui.

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