Com a mochila às costas: a América Latina em 60 dias

Com a mochila às costas: a América Latina em 60 dias

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Dírio Ramos e Urânia Gaspar não têm em comum apenas a vida de casal, mas também o gosto pelas viagens. O engenheiro e a professora de história conheceram-se por intermédio de familiares. No início, nem simpatizaram um com o outro. Só muito tempo depois é que descobriram a paixão mútua pelas viagens.
O casal sexagenário dispensa roteiros turísticos e agências de viagens e faz questão de trocar o conforto dos hotéis por uma boa dose de aventura. Nos primeiros tempos de vida conjunta, optaram por fazer um cruzeiro, mas o arrependimento foi de tal ordem que nunca mais repetiram a experiência. Urânia sentiu-se “presa”.repodirio1

Depois da aventura pelos mares, Dírio e Urânia estrearam-se num percurso de carro por Itália, durante 30 dias. Desde então, nunca mais pararam. Do Dakar – cuja brancura impressionou deveras a docente – ao Vietname, onde as vistas compensaram 16 horas passadas num autocarro, aos ares puros da Bolívia, a  meta é conhecer o máximo possível de lugares, culturas e gastronomias. Para tudo correr bem, há que ser cauteloso e levar pouca bagagem.

“Transportamos apenas o essencial para caber em mochilas porque andamos sempre de um lado para outro”, conta Dírio Ramos.

Não se pense que para fazer estas viagens é preciso ser rico, esclarece Dírio Ramos. O segredo, diz, está na poupança e no planeamento  que começa logo após cada regresso. “Levamos uma vida simples. Quando temos dinheiro para a estadia, começamos a pensar onde ir. São dias a ver na net as viagens de avião. Compramos com muita antecedência as grandes viagens. Depois começa o estudo de um percurso, das ligações por ar e por terra, da melhor forma de atravessar algumas fronteiras e mais pesquisa na Internet e nos livros”, adianta o engenheiro, lembrando que, por vezes, é bom ter um plano B para situações como a que enfrentou no Chile, onde um terramoto o forçou a mudar de rumo. DSC_0886

Outro conselho útil deste casal é a organização. “Sempre que ficámos num hotel, aproveitamos para lavar a roupa e mantemos sempre as malas bem arrumadas para que as roupas estejam fáceis de tirar e em bom estado. Levamos algum dinheiro efetivo em dólares ou euros e os cartões”, vinca Urânia.
A última viagem do casal foi comprada em Dezembro de 2013: Funchal/Lisboa/Caracas e o regresso de São Paulo /Lisboa /Funchal. Urânia e Dírio passaram por Santiago do Chile /Cordova, Argentina /Buenos Aires e Rio de Janeiro. “Foi perfeito. Estivemos com amigos que conhecemos em viagens anteriores e familiares… Viajar é também fazer amigos e ver amigos. Falar e ouvir pessoas diferentes”, sublinha a professora de história que elege a América Latina como um dos seus três destinos favoritos no Mundo, pela diversidade cultural e pela riqueza do património.

Colecionadores de histórias
“Cusco, Cidade Imperial, fica a 3 400 metros de altitude. Começamos a sentir o ‘soroche´ ou doença das alturas. Tínhamos comprado pílulas e, no hotel, deparamos-nos com  água quente e folhas de coca para fazermos infusões. O corpo fica pesado, a respiração é difícil, as tonturas… só ao 3º dia estamos bem, mas não deixamos de ver a cidade”. Assim ‘reza’ uma das passagens do diário de viagem de Urânia Gaspar.

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No documento, a docente conta as suas aventuras durante uma viagem de 60 dias à América Latina – se fosse mais nova, garante, ia tentar percorrer parte do continente sul-americano de moto -. De Cusco, uma cidade museu, ao Deserto de Uyuni é a maior plataforma salgada do mundo, até La Paz, em São Tiago do Chile, todas as memórias estão cuidadosamente registadas, para que nada seja esquecido e quem sabe, um dia, dê mote a um livro. diriorepo4

Entre os momentos mais hilariantes, Dírio e Urânia recordam, a saída do Deserto do Sal, quando descobriram que os guias e motoristas se tinham embebedado. “Seguimos viagem com um casal alemão, com o jovem rapaz a conduzir, enquanto o motorista não recuperava”, conta Urânia.

Apesar do percalço, deixaram a planície salgada e começaram a subir para as montanhas altas rumo ao deserto seco, recordam os viajantes. Urânia acrescenta: “Fomos dormir a um abrigo que estava lotado de gente jovem. Ficamos os 5 no mesmo quarto. Dormimos com roupa e dentro do saco DSC_0982cama… um frio terrível. O abrigo só tinha luz durante 2 horas. Levantámo-nos ás 3h da madrugada mais fria, mesmo frio a sério. Pelo caminho vimos os geiseres muitos vulcões e mais lagunas”, relata declarando-se impressionada com os jovens que não hesitaram em tomar banho nos tanques quentes e fumegantes, apesar da temperatura exterior estar nos 20 graus negativos.
Para além de histórias, o casal coleciona fotografias das suas viagens. Recordar, assim como estudar e planear percursos, já é, no ato em si, uma forma de viajar. E viajar é, para Dírio e urânia, um modo de vida. O casal inicia, hoje, mais uma aventura, agora de 56 dias que passa pela Malásia, Indonésia, Filipinas, Birmânia, Tailândia e Singapura.

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