Sindicalização? Sim, porque…

Sindicalização? Sim, porque…

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Carlos Góis / SETAA e Dirigente da UGT Madeira

No meu último apontamento incidi a minha reflexão sobre o momento actual do associativismo sindical no nosso país, que particularmente considero preocupante (“enfermo”- como o cataloguei…), e não só do ponto de vista estruturante (organização interna – dirigentes/associados) como também da sua dinâmica funcional externa, nomeadamente quanto às práticas em dialéctica laboral, (sindicatos/entidades empregadoras).

E dessas circunstâncias (preocupantes, assuma-se sem rodeios), obviamente que a nossa Região encontra-se no limbo dessa vivência sindical, por variadas razões, e até mais relevantes do ponto de vista morfológico pela emergência particular da nossa georreferência insular e de ultraperifecidade.

Muito recentemente, um prazeroso amigo meu, e também ele envolvido convictamente no nosso movimento sindical nacional/regional, teve a feliz ideia de postar uma oportuna nota/reflexão na sua página pessoal do Facebook dando conta de que maioritariamente os trabalhadores/colaboradores de alguns países do norte da europa (Dinamarca, Noruega, Finlândia, etc) encontram-se sindicalizados em ordem dos 80% pelos mais diversos sectores produtivos, sendo que – e por essa circunstância, sublinhe-se (!) – sentiam-se positivamente estimulados, quer na sua vida profissional quer na pessoal familiar e/ou social. Sintomático?

Pois claro. É que por estes mesmos países os sindicatos são instituições consideradas de normalidade vivência empresarial laboral, e até, por isso mesmo, são estruturas essenciais na vida das próprias empresas; e pelo papel motivacional nas relações colaboradores e empregadores, visto que são parte também integrante na partilha e no acompanhamento dos objectivos maiores das empresas, isto é convergem duplamente sinergias para a melhor produtividade e bem estar laboral, em particular, e consequentemente a quem lhes paga os salários, as entidades patronais.

Aqui e agora, a realidade sindical de fora do nosso espaço regional/nacional, é-nos bem diferente, substancialmente… E desse ponto e vista, vejamos mais uma opinião/estudo de um catedrático brasileiro (Morôni) sobre a sindicalização em países como, por exemplo, a Noruega, Suécia, a Dinamarca e/ou Finlândia, entre outros, suporta a tese de que “(…) Vale lembrar que os países nórdicos tem algumas das maiores taxas de sindicalização do mundo e os sindicatos são bem fortes, o que não é possível no regime liberal já que os sindicatos só são fortes com leis trabalhistas fortes que permitam um poder de pressão contra o patronato. Ex.: Um sindicato não tem como fazer greves tão eficazes sem uma lei trabalhista que garanta o direito de greve e proíba o patrão de demitir o empregado em greve legítima ou outras coisas. “ (Morôni, professor da rede pública municipal de Belford Roxo e Queimados – Rio de Janeiro -, em blogue pessoal a 23 de Junho de 2014).

De resto, entroncando essa mesma linha de pensamento, em conferência decorrida em 2012, em Lisboa (na Fundação Calouste Gulbenkian), outras ilustres personalidades como os embaixadores da Noruega, da Finlândia, da Dinamarca e da Suécia em Portugal, com a participação do secretário de Estado do Emprego, à altura Pedro Martins ), configuraram as suas opiniões de que «(…) Na Noruega, na Dinamarca e na Finlândia, as negociações laborais são feitas apenas entre empresas e trabalhadores. O Governo só intervém se necessário. Além disso, são criadas condições para que seja possível “ter uma família e trabalhar ao mesmo tempo.” (Rádio Renascença 28/11/2012).

Estes elucidativos estados de envolvências e conceitos em praticas sindicais, muito interessantes por essa Europa fora, provam-nos muito e bem o quanto as instituições sindicais podem ser partes importantes de vitalidade nos mais diversos sectores produtivos (privado ou público), lá como cá.

É uma questão de mentalidades de quem integra o mercado laboral: dos trabalhadores/colaboradores assumindo a sua condição de cidadãos livres e por isso sem complexos de estar (bem) sindicalizado (bem informado, em direitos e deveres) – por uma parte, e as entidades empregadoras que com toda a certeza disso terão bons proveitos/produtividade, em estimulantes activos para os objectivos das suas empresas: optimização em resultados. Diga-se.