Apertem os cintos!

Apertem os cintos!

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Carina Ferro / Gestora de projetos comunitários

Veem aí as eleições. Em tempos escrevi sobre a quantidade (a meu ver) injustificada de partidos candidatos às eleições regionais face à qualidade discursiva e programática de muitos dos intervenientes. Infelizmente, salvo raras exceções, o mesmo cenário repete-se nesta campanha.

Recordo-me da necessidade de respeitar a pluralidade democrática e presença rotativa dos variadíssimos partidos em debates que faziam lembrar lógicas mercantilistas de países terceiro-mundistas. No fundo, tudo valia para conseguir um voto. Eu, que até sou uma pessoa atenta às questões políticas fraturantes para a nossa Região, não consegui assistir a nenhum dos debates com seis representantes partidários até ao fim – não havia forma de se conseguir perceber o que cada partido defendia nos temas em debate pelo período de tempo que lhes era atribuído.

Momentos houve em que não encarei o programa como um “debate” senão como uma “entrevista partilhada” de pouca relevância (responsabilidade exclusiva dos intervenientes). Era um vaivém de perguntas e respostas, ao jeito do “Elo mais fraco” que gerou (mais) animosidade perante a qualidade/competência dos nossos representantes. Resultado? Desinteresse total. E, com isso, perdeu a democracia, e ganhou a abstenção. Perdemos todos.

Nesta fase não existem debates televisivos, mas já aparecem algumas entrevistas na imprensa regional que fazem recordar todo um modus operandi pré-eleitoral alicerçado em pura demagogia. Nunca um voto valeu tanto, e nunca as pessoas se desinteressaram tanto sobre o futuro da Região e do País. Porquê? Dá a sensação que (quase) todos querem “a diferença de fazer diferente” (estranho slogan de campanha do PSD Almada), mas poucos se prestam ao “pensar diferente”.

Há uma espécie de seguidismo vincado nos pequenos partidos que me assusta. Esperava que a pluralidade democrática fosse um verdadeiro contributo aos ideais republicanos, mas enganei-me. Ouvem-se propostas sem sentido, atiradas ao sabor do vento, sem que sequer se tenha equacionado a implementação das mesmas. Não interessa se podem cumprir o que prometem, interessa é prometer. Muitos contradizem-se a cada frase, outros contradizem a sua própria natureza partidária. É um verdadeiro festival de incoerência política.

Apertem os cintos, “the show is about to begin”.