Canoagem, que futuro?

Canoagem, que futuro?

0

Humberto Fernandes / Coordenador de canoagem do Clube Naval do Funchal

Cabe a mim desta vez falar sobre canoagem. Como todas as modalidades da RAM, a canoagem atravessa dificuldades e tem o futuro muito incerto, fruto não só das dificuldades económicas actuais, mas também da ineficácia de uma política desportiva com mérito em alguns casos, mas desenquadrada da realidade em outros, como é o caso da canoagem. A forma vergonhosa como fomos tratados no processo de requalificação de São Lázaro também não ajudou em nada.

Na RAM, nos últimos cinco anos, houve um decréscimo para um terço do número de federados e de praticantes da modalidade. A canoagem nas escolas, na esmagadora maioria dos casos, é inexistente e o pouco que é feito é com pouca qualidade.

O Clube Naval do Funchal, embora continue com presenças assíduas em grandes eventos Nacionais e Internacionais e embora seja o clube com maior expressão Regional nos últimos anos, não ficou imune às dificuldades, pois, além da já expressa pouca adesão de novos praticantes, a canoagem adaptada teve de ser suspensa durante vários meses por falta de condições.

Para além disso, a participação Nacional, que é de extrema importância para o desenvolvimento dos praticantes, é reduzida e em consequência os resultados desportivos têm decrescido de uma forma preocupante. Resta-nos ainda alguma dinâmica na organização de eventos como o Madeira Ocean Race e nas excelentes participações internacionais de David Fernandes e Helena Rodrigues.

Está claro que para continuar a ter nas nossas fileiras canoístas deste calibre muito terá que ser feito não só pela tutela mas por todos aqueles ligados ao desporto, porque muitos falam em alta competição e alto rendimento mas poucos são aqueles que efectivamente sabem o que é, e o quão difícil é trabalhar ao mais alto nível nesta Região, talvez não o saibam por estarmos num Pais onde infelizmente a falta de cultura desportiva abunda.

O futuro só pode ser positivo se houver menos promessas e mais coragem pois sem investimento não há desenvolvimento. A canoagem tem características que permitem a auto-sustentação, mas para isso tem que haver investimento em recursos e infra-estruturas com planeamento e coordenação, de modo a que a canoagem bem como todas as atividades realizadas no mar estejam acessíveis ao maior número de pessoas contribuindo para uma melhor cultura desportiva e para um estilo de vida mais saudável.

Ultimamente tem-se falado muito nas potencialidades do mar que até parece que são recentes, mas não, sempre existiram. Como todos nós sabemos a canoagem em Portugal desenvolve-se a um ritmo alucinante e é já uma indústria de milhões sendo o País mais visitado por canoístas de todo o mundo principalmente canoístas de elite. Nós, por cá, parecemos não muito preocupados com isso visto que para além de promessas que já vêm de há muito tempo (se bem me lembro logo após os jogos Olímpicos de Atalanta de 1996 em que estiveram dois velejadores madeirenses) nada foi feito.

A RAM fez um grande investimento público para oferecer um parque desportivo de qualidade e que fosse de encontro as necessidades das populações mas isso foi só para alguns desportos pois no que diz respeito às actividades náuticas, estas foram esquecidas e tratadas como modalidades de segunda categoria.
A canoagem, além de ser um desporto dos mais completos do ponto de vista motor, é também um desporto muito versátil com diversas vertentes e classes que se pode ajustar às diferentes expectativas da cada praticante; pode ser um desporto individual, um desporto colectivo, praticado em piscina, em pistas, em ondas, em águas calmas e águas bravas, temos muito que explorar e alternativas não nos faltam, o que falta sim são oportunidades.

Para finalizar não posso deixar de referir que para os próximos cinco meses a canoagem do Clube Naval do Funchal tem desafios bem aliciantes, a começar neste mês de Maio no Europeu na República Checa e em Montemor-o-Velho com a primeira Taça do Mundo de Pista realizada em Portugal, passando em Junho pelos Jogos Europeus em Baku, e, por fim, no mês de Agosto as atenções vão todas para Itália onde, em Milão, o David Fernandes e a Helena Rodrigues terão a única oportunidade de obter mínimos olímpicos em K4. Para isso, basta que se classifiquem nos oito primeiros do mundo o que é um feito bem possível de atingir. Espero, sinceramente, que alcancem esse objectivo.