Isto promete!

Isto promete!

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Luís Filipe Malheiro / Jornalista

As eleições regionais deste ano deverão ser das mais disputadas de sempre. Existem razões que contribuem mais diretamente para isso, desde logo o fato do PSD da Madeira, depois de 40 anos de liderança vitoriosa de Alberto João Jardim, se apresentar aos eleitores madeirenses com uma nova cara, com novos dirigentes, com novas propostas, com novas ideias, com novas prioridades, com uma nova forma de fazer e estar na política, segundo os próprios. A Assembleia Regional, não tenho dúvida, recuperará o espaço perdido e será, como tem que ser, o palco privilegiado do debate político na região. Não vejo que se possam repetir procedimentos anteriores que em certa medida distorciam a realidade, já que são os governos que dependem dos parlamentos e não o contrário e os parlamentos são compostos por deputados que resultam da vontade livre e democrática dos eleitores.

Por outro lado, há que reconhecer, a realidade social e orçamental da região – apesar de ter sido afirmado recentemente em Lisboa que a dívida regional, a manter os atuais níveis (e a ausência de investimento público, salvo apenas pela Lei de Meios e pouco mais), será sustentável – não é, longe disso, passível de funcionar como uma mais-valia a favor do PSD. Há desemprego elevado, não há investimento público, há carências financeiras generalizadas nos diversos departamentos e organismos, há porventura opções que devem ser tomadas, há a ameaça do peso dos encargos com a dívida que vêm a caminho já em 2016, enfim, uma panóplia de situações que tornam o próximo mandato governativo regional o mais importante e porventura mais difícil de todos.

Acresce que pela primeira vez teremos uma coligação política, porventura não tão estimulante (para os protagonistas) e alargada como inicialmente desejariam, coligação essa liderada pelo PS e da qual fazem, parte PTP, PAN e MTP. Outros partidos mais “tradicionalistas”, PCP, PND e Bloco de Esquerda concorrem isoladamente e a eles parecem juntar-se, para além da JPP – que se transformou de movimento autárquico apoiado pelo PS, CDS, PTP, PND, Bloco e MPT em partido regional depois de tanto ter criticado o sistema partidário regional e que dificilmente não deixará de ser um dos enigmas deste processo eleitoral, só desfeito quando conhecermos os resultados finais – uma coligação PPM/PDA que depois da primeira recusa do TC poderá insistir na legalização, e partidos mais pequenos, casos do PNR e do PCTP que anunciaram a intenção de concorrer ao ato eleitoral o que acontecerá pela primeira vez em regionais.

Temos, como se verifica um puzzle politicamente diferente, numa região que precisa de centrar as suas prioridades no combate à abstenção, que pela primeira vez em 2011 ultrapassou os 42%, valor que não deixa de constituir um recorde e uma preocupação a ser obrigatoriamente assumida e assimilada por todos os partidos responsáveis. Para que a representatividade dos deputados eleitos – não confundir com legitimidade democrática- seja posta em causa por causa de uma diminuta participação de cidadãos no ato eleitoral.

Finalmente, não duvido que estas eleições regionais, que continuam a ter a comunicação social como o palco privilegiado da disputa partidária – e devido à falta de recursos financeiros a comunicação será cada vez mais o local desse confronto – poderão ter pela primeira vez uma componente nem sempre valorizada, porque ainda não generalizada apesar de utilizadas de uma forma algo libertina e que por isso podem destruir o caráter de pessoas e criar problemas aos políticos e aos partidos, sobretudo nos meios mais urbanos que dedicam algum tempo para ali navegarem. Falo das redes sociais. Penso que elas são, apesar de fugirem a qualquer controlo da regulação, protagonistas à sua maneira, e cada vez mais efetivas, das campanhas eleitorais, pese o fato de ninguém saber hoje – existem estudos antigos que davam valores insignificantes – qual o peso efetivo que elas têm junto dos cidadãos, particularmente junto dos eleitores e dos adeptos de blogues ou de redes sociais mais generalizadas. Lamento que as pessoas sejam enxovalhadas publicamente nestes espaços, porque não existe regulação e não há capacidade de controlar e censurar as redes sociais sempre que os ataques pessoais sejam feitos de forma ofensiva, falsa e insultuosa.

Pese tudo isso, e sem colocar em causa o princípio sagrado da liberdade de expressão, aplicada também às redes sociais, estou convencido que estas regionais serão diferentes e podem por isso propiciar surpresas. Uma delas a continuidade da estabilidade social e política; outra a deturpação da realidade eleitoral expressa pelos madeirenses, graças a movimentações de bastidores; outra ainda, mais extrema, a ingovernabilidade da região numa altura em que isso não pode sequer ser pensado. Isto promete!

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