Jimmy

Jimmy

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Gonçalo Santos / Profissional de comunicação

Recentemente, partilhei uma casa de banho com Jimmy Carter. Ou aliás, fiz o mesmo que o Jimmy Carter, na mesma casa de banho e nesse sentido, partilhámos a utilização do espaço, embora em tempos diferentes.

Uma placa alertou-me para a partilha. Era dourada e dizia “Jimmy Carter, President of The United States of America, stood here”.

Fiquei contente. Sempre achei graça à figura do Jimmy. E gosto do nome.

Não gosto de tipos que ganham sempre. Gosto mais de gente normal, que às vezes ganha e que às vezes perde. Como o Jimmy, o único presidente dos Estados Unidos que um dia foi atacado por um coelho que nadava, conseguindo assim ser protagonista de uma cena construída sobre duas aparentes impossibilidades. Os coelhos, em princípio, fogem, não atacam. Os coelhos, em princípio, não nadam.

O Jimmy foi o tipo que conseguiu fazer Israel e o Egito entenderem-se. O Jimmy devolveu o canal ao Panamá. O Jimmy assinou acordos com os maus da fita, os russos, e com os cubanos. O Jimmy andou pela América do Sul e não incentivou as ditaduras militares, ao contrário dos seus antecessores e sucessores. O Jimmy foi, para o mundo, um gajo porreiro.

O problema é que o mundo não lhe retribuiu na mesma moeda. Foi no tempo do Jimmy que a embaixada americana em Teerão foi assaltada, com reféns e tudo. Foi no tempo do Jimmy que os russos invadiram o Afeganistão. Pobre Jimmy, que poderia ter feito?

Seja como for, os americanos preferiram eleger Reagan. Nada melhor do que um cowboy para pôr ordem na casa. Na própria, e na dos outros, se preciso for. E o Jimmy lá voltou para a sua Georgia natal, embalado pelo hit que o Ray Charles escrevera quase 20 anos antes.

Entre campos de amendoins e florestas de pinheiros, o Jimmy criou a sua fundação e com ela andou mundo fora a fiscalizar eleições e a promover a democracia.

Um dia, um dia qualquer, teve vontade de ir à casa de banho. Foi aí que nos cruzámos, há dias.

Hoje, por acaso, li que o Jimmy, com 90 anos, está doente. Não vai durar muito, é o que se diz. Felizmente, ainda fui a tempo de partilhar com o Jimmy um ato tão humano como ele. E como eu.

God Bless you, Jimmy Carter

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