O preço da verdade

O preço da verdade

.
0

Carina Ferro / Gestora de Projetos Comunitários

Há dias falava sobre o futuro e sobre aquelas que foram, a meu ver, as fragilidades do PS-M num passado relativamente recente. Para falar de futuro, é preciso aprender com os erros do passado. E essa conversa passou, precisamente por aí. Poderão os erros do passado condicionar o futuro do PS-M? Sem dúvida. Mas o cerne da questão não está aí.

Está, como muito se tem falado, na mensagem que passa para os eleitores. E tornou-se claro que a mensagem não está a ser transmitida da melhor maneira (por todos os partidos e não apenas pelo PS-M). Apercebi-me, nesse dia, que manipular a mensagem parece ser o modus operandi mais usual nestas lides. O caminho da mentira é o mais fácil.

O caminho da promessas inexequíveis é tão mais fácil do que assumir que não poderemos resolver um problema que passou de conjuntural a estrutural no espaço de 4 anos. Na política, em particular na classe que eu costumo chamar de “novos políticos” – aqui entram os carreiristas políticos, os políticos profissionais, e todos aqueles que andam na política há anos ou décadas, mas que não conseguem subir do escalão de oportunista consolidado – parece ser um dado consolidado que a verdade é abominável, e dizer a verdade faz perder as eleições. Mais grave ainda, a garantia de vitória parece estar associada a uma obrigação de promoção da mentira e das promessas impossíveis que só têm vindo a descredibilizar o sector político governativo.

Há pouco tempo foi publicado um estudo que apresentava dados assustadores sobre o desinteresse das camadas mais jovens na política – aqueles que são o futuro do país estão, literalmente, a marimbar-se para isto tudo. Dá que pensar. E porquê? Parece-me inequívoco que o desinteresse destes jovens e de todos os abstencionistas começa na forma como os políticos fazem política. Se a base da sua intervenção é a manipulação, a mentira, a falsa promessa que convence cada vez menos eleitores a depositar a sua confiança expressa em votos, como podemos esperar que estas pessoas se sintam motivadas a participar? Falta ponderação, responsabilidade e, acima de tudo, verdade.

Não há ninguém capaz de confiar em alguém que nos mente com um sorriso na cara, como se fôssemos idiotas completos. Essa subvalorização da inteligência dos eleitores chega a ser ofensiva. Mas, vai daí, também me ofende a sobrevalorização de alguns políticos profissionais que por aí andam. Vendemo-nos por pouco, parece. É o preço da mentira. Quanto custará a verdade?