O sindicalismo está enfermo em Portugal? Assim parece-me…

O sindicalismo está enfermo em Portugal? Assim parece-me…

.
0

Carlos Góis / SETAA e Dirigente da UGT Madeira

Muito se tem falado, escrito e, por isso, também especulado sobre o movimento sindical no nosso país, e por variados motivos. Antes o fossem pelos positivos, que felizmente também os tem havido (e por aqui disso darei conta, mais adiante) mas alguns elementos tornados públicos ultimamente (já neste 1º semestre de 2015) pela nossa comunicação social, muito pela postura de ética pessoal (falta dela, assuma-se sem rodeios!) de alguns dos seus principais dirigentes associativos sindicais, contrariam muito, infelizmente pela negativa, esse vetor de positividade em dialética laboral sindicalizados/sindicatos/entidades patronais. Mas se isso (falta de ética) já não bastasse, para mal dos “nossos pecados” – e digo “nossos pecados” porque, aqui, tenho que incluir-me com responsabilidades de dirigente em duas estruturas sindicais, uma o SETAA-M (coordenador regional) e outra a UGT-Madeira (membro da sua direção)- ultimamente o nosso espaço nacional tem sido palco de alguns acontecimentos pouco abonatórios para o movimento sindical nacional.

De entre umas greves justificadas (aceitáveis, a de transportes terrestres…) e outra (TAP) “assim-assim”, assente em contornos pouco claros (…), resultando (segundo o seu principal interlocutor sindical, não sindicalizado?) uns “alegres” danos para a empresa, aproximados de €35MILHÕES (?), passando por “frescas” notícias publicitando remunerações mensais verdadeiramente escandalosas (para ser brando) de alguns dirigentes sindicais (nos bancários, de €12MIL ?…).

É certo e sabido que o direito à Greve está felizmente (para nós, trabalhadores) consignado na nossa Constituição (Artigo 57º da CRP). Agora, esse nosso importante valor laboral constitucional, uma das essências da Democracia, não devia sustentar, nunca e em tempo algum, uma condição sine qua non em matéria de negociação laboral por parte de quem dirige as mais diversas associações sindicais, sob pena de ferir o objeto principal destas (nobres) instituições, que primeiramente deverão ser um bastião de defesa em direitos dos seus sindicalizados, como também o devem ser no tocante a boa informação de deveres (uns tão importantes quanto outros!).

De resto, muito antes desta singular etapa (greve), terá que haver sempre um natural quanto respeitável caminho de franco diálogo social a percorrer pelos respetivos parceiros sociais envolvidos, através do qual devem ali procurar encontrar as melhores soluções aos argumentos em confronto, e na perspetiva de que a convergência das mesmas resultará em progressivos proveitos para todas as partes (todo o corpo de uma empresa, do público ou privado).

Mas ainda sobre as greves, felizmente nem tudo são notícias negativas. Isto é, quando oportunas e bem usadas, são convincentemente eficazes para alguns sectores profissionais de classe. Disso mesmo, são um bom exemplo o corpo de Bombeiros Municipais de Machico , quando decidiram suspender, no passado mês de Maio, uma “(…) greve que decorria desde o mês de novembro. de 2014 (…)” por “consideraram terem sido atendidas as suas pretensões, nomeadamente a nomeação de um novo comandante e a alteração do horário de trabalho (…) e passaram a praticar o horário 12/36,proposto por ANBP/SNBP, o que tornou possível ter bombeiros profissionais em todos os turnos.” ( in DN-Madeira). E daqui uma especial saudação a todos os seus elementos pela sua consequente e proveitosa luta, da qual obviamente também beneficiará a população em geral.

Por outro lado, a atual situação de constrangimento sócio-económica nacional/regional não tem favorecido outra melhor vivacidade sindical, e bem pelo contrário tem mesmo “promovido” um visível alheamento e decrescente desvinculação da maioria dos trabalhadores nas mais diversas associações sindicais, salvo raras exceções de outros dados que podem contrariar essa realidade primeira.

E quando análises de inquérito recentes demonstram-nos que cerca de 80 % dos cidadãos portugueses desconfia (“não acredita”) das instituições democráticas, as nossas associações sindicais não podem “assobiar para o lado”. E o movimento sindical nacional/regional só trilhará rumo certo quando todos assumirem a sua parte de responsabilidades, trabalhadores em geral e dirigentes, em particular.