E a mobilização?

E a mobilização?

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Luís Filipe Malheiro / Jornalista

Parece-me muito sinceramente que a campanha eleitoral, ainda na sua fase preliminar (pré-campanha), não apresenta a dinâmica e a capacidade de mobilização dos eleitores que seria de esperar.

Provavelmente os partidos encararão de forma diferente este tema – até porque admito que tenham a perceção da realidade no terreno – mas mesmo contando com essa situação, não acredito que os partidos considerem que esta minha opinião esteja tão distante da realidade como penso que não está.

Os nossos tempos, há que reconhecer, não estão para campanhas eleitorais à moda antiga, muito presentes no quotidiano dos cidadãos, mobilizando recursos humanos e financeiros que hoje reconhecidamente não existem. Há uma crise que deixou marcas sociais profundas, em termos nacionais e também na Madeira; há uma austeridade criminosa que sacudiu toda a estrutura da sociedade portuguesa em geral e madeirense em particular; há um desemprego vergonhoso que, até pelos números reais (não falo dos indicadores manipulados), devia obrigar os governantes a se meterem na fossa de modo a que ninguém desse por eles; há uma desmotivação generalizada entre os jovens e os idosos, os mais sacrificados pela crise, por razões obviamente diferentes; há como se verifica um conjunto de fatores que diretamente influenciam as campanhas eleitorais e os partidos.

Acresce que em momentos de provação social e de crise, os políticos e os partidos são, regra geral, os mais penalizados, porque o dedo acusador dos cidadãos não os poupa. E quando olhamos para todos os dramas deste período, desde 2011 até hoje, e para tudo o que foi decidido, desde a roubalheira com pensões e reformas ao gamanço descarado aos rendimentos dos funcionários públicos, de forma abrupta, criando problemas sociais graves em muitas famílias, passando pelas patifarias desta corja de bandalhos que aos poucos andam a dar cabo do estado social, tal como ele tinha sido pensados pelos mentores do sistema político e da democracia portuguesa pós-25 de Abril, quando assistimos a uma perseguição doentia do governo de coligação de Passos e do CDS, aos funcionários públicos, lançando o caos na justiça, na saúde, na educação e noutros setores de atividade sob a responsabilidade tutelar do estado, obviamente que se percebe o motivo do crescente distanciamento dos cidadãos das urnas.

Obviamente que há atenuantes na responsabilização dos partidos regionais por este estado de coisas. E neste caso concreto a política nacional ajuda a “esconder” a campanha para as regionais, com todas as suas peripécias e vicissitudes, em grande medida por causa da reconhecida incapacidade de Costa e do PS nacional em se afirmarem como a alternativa que erradamente dizem ser, o que inevitavelmente faz ricochete nos socialistas da Madeira que lideram uma estranha coligação e que os madeirenses não esquecem que foram sempre aliados incondicionais do período socialista de Sócrates. Que não pode ser posto de lado nesta análise, e que tanto mal fez à Madeira, contando sempre com a cumplicidade passiva e submissa dos agora líderes da “mudança” que contam com a memória curta dos eleitores madeirenses.

Por isso não entendo como é se pode andar a perorar asneiradas e a fazer provocações nos meios de comunicação social, dando sistemáticas” voltas à mesa do bilhar”, porque quem assim se comporta não tem a coragem, a dignidade e a integridade intelectual de abordar o que realmente está subjacente a tudo o que hoje se constata na sociedade regional e que motivou muita contestação com reflexos nas urnas: a responsabilização dos políticos e dos partidos pelos anos de austeridade e pelos dramas sociais, sementes de uma aversão popular crescente relativamente aos políticos e aos partidos.

Basicamente o que se espera nesta campanha eleitoral, que só começará mais tarde, é uma outra dinâmica que não se compare à que existiu até hoje, onde tudo parece resolver-se (e resumir-se) ao trabalho das assessorias de imprensa de alguns partidos mais endinheirados que se fartam de produzir comunicados de imprensa e registos fotográficos diários e manipulados, que encontram fácil acolhimento em blogues, sem qualquer influência na definição do voto do eleitorado e nos meios de comunicação em geral onde realmente tudo se decide. Continuo a pensar que a televisão, as reportagens dos 11 dias de campanha eleitoral e os tempos de antena poderão ser decisivos para que os indecisos, reconhecidamente ainda em grande número, façam as suas escolhas.

Há um combate contra a abstenção, que tem que mobilizar os partidos e tem que ser prioritário, porque com uma abstenção elevada os partidos correm o risco, todos eles, de ficarem muito aquém dos seus objetivos eleitorais e parlamentares. Lembro que as regionais de 2011 registaram um recorde de abstencionistas, algo que creio que possamos aceitar que se agrave ainda mais este ano, porque isso conduzir-nos-ia para uma discussão ainda mais incómoda, centrada no debate sobre a representatividade “versus” legitimidade política dos eleitos. Neste momento, e perante este quadro, isso seria fatal.